março 10, 2020

Possíveis

"Quem deseja passar bem por portas abertas deve prestar atenção ao fato de elas terem  molduras firmes: esse princípio (....) é simplesmente uma exigência do senso de realidade. Mas se existe senso de realidade, e ninguém duvida que ele tenha justificada existência, tem de haver algo também que se possa chamar senso de possibilidade. Quem o possui não diz, por exemplo: 'aqui aconteceu, vai acontecer, tem de acontecer isto ou aquilo'; mas inventa: 'aqui poderia, deveria, ou teria de acontecer isto ou aquilo'; e se lhe explicarmos que uma coisa é como é, ele pensa: bem, provavelmente também poderia ser de outro modo".

(R. Musil, O Homem sem qualidades).

agosto 23, 2017

Há quanto tempo

Chego em casa. Dia cheio. De coisas. De pontas soltas. Fios que você puxa, fios que te amarram. Paro um pouco, apago a luz e deixo o som tocar. Antes de recomeçar o trabalho. Gal e Caetano me chamam de baby, me lembram da gasolina, da piscina, da Carolina. A vida é mais e, ao mesmo tempo, bem menos do que exigimos dela. Eu sei que é assim. Eu sei.





janeiro 26, 2017

cambalhota

Há uma dupla infantil que não falha. LEVEZA E DESTREZA. Na infância está o sentimento irrefletido da tranquilidade, do ser apenas, reunindo sentidos para aquilo que não se sabe. E pelo sem compromisso que é, permite que o prazer venha como mediação. LEVE. Filtro bom do deixar estar, onde não habita a preocupação. Um alívio permanente, que desconhece o peso, e é companheiro fiel da risada. Rir na corrida, rir na pergunta, rir na acrobacia espontânea. Agir com habilidade pela propriedade segura e inconsciente do próprio corpo, que é maleável e imensuravelmente solto. LIVRE. E tudo isso, se passado foi, também é vestígio, é marca, continua. Índice do antes, pelo agora, para o depois. A felicidade, pois, é átimo, mas também memória de uma pura essência. O que faz com que, mesmo adulto, o sorriso dê cambalhotas. De novo.

dezembro 20, 2016

preservação

Cada um tem sua régua. Medidas distintas para ver o mundo. Mais ou menos. Menor ou maior. Uma regulagem conflituosa, já que os consensos do sentir nunca se dão no equilíbrio. Na metragem ou na balança, o ir e vir podem resumir-se também a começos e fins. Sempres e nuncas. Nos centímetros também, portanto, reside um cronômetro. Que, regulado pelo vontade, significa permanência. Seja sim ou seja não, o que fica é, pois, imensurável. Já está. Estará. Obrigado. Foi. Muito. Bom.

dezembro 09, 2016

Ano que passa

Resta aquela pergunta sobre o que ficará e como ficará. A permanente dúvida sobre os motivos e razões do prender-se ao outro, mesmo sabendo que a corda pende para o lado mais forte. Ser fraco. Fortalecer. Seguir sem. Manter-se com. 2016 desaguou. Em mim, em nós. Pois que ele passe. Já que não adianta viver a represa. Ainda que como metáfora.