Portugal tem um tanto de Minas. É uma metonímia ao contrário. Não é a parte pelo todo. É o todo pela parte. Por onde ando me vejo. Vejo quitutes, quitandas, cores, morros, azulejos. Vejo Ouro Preto. Vejo Tavares, Almada, Souza. Vejo avós, pais. Sensação de estar em casa.
Hoje, lá de casa, do Brasil, veio um email. Falavam de família, de interior mineiro e de futebol. Viram um jogo na TV e se lembraram de mim. Novos elos. Novas proximidades distantes.
Os dois lares - o de fora e o de dentro, o de perto e o de longe, o todo e a parte - me lembraram de um hábito nosso, dos meus.
Na casa da minha avó, lá em Barra Longa, quando todo mundo saía e não ficava ninguém, era hábito deixar a chave da porta da rua escondida num cantinho secreto, que só os de casa conheciam. Quem chegava, nunca corria o risco de ficar trancado. Confiança. Na cidade e nos parentes. Deixar a chave da porta à disposição, quase na fechadura, mas visível só para quem era permitido ver...
Mineiro, geralmente, quando recebe em casa, abre a porta da frente e sempre mostra a casa toda. Leva na sala, na cozinha, nos quartos. Apresenta o todo. Necessidade de mostrar tudo. Mostrar por dentro. Não é em todo lugar que se faz isso. (Por que? "Nos'senhora!", depois tenho que pensar sobre...).
Se um dia um mineiro lhe abrir a porta da frente e sorrir, siga. É costume. Mas se ele, por ventura, lhe oferecer a chave, lhe ofereceu também o confiar.
Por isso, não mude nunca o esconderijo, nem o faça maior. Se quiser partir e não voltar, saia por onde chegou. Devolva a chave e guarde o segredo. Deixe onde está. Se for entrar novamente, já sabe onde estará a confiança. "Escondida", do lado da entrada. Visível só para quem pode ver...
Hoje, do alto, de novo, vi o Tejo. Hoje, do quarto do hotel, me vi.
Lisboa e(m) Fred. Minas e(m) Portugal.
É curioso. Quando eu aqui voltar, já saberei abrir a porta.
Mas é preciso sair?
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