Em Alcalá de Henares, repousa um pouco-muito da história espanhola, por meio de ruas tranquilas com ar interiorano, construções que datam de séculos, ruínas complutenses do período romano em solo hispânico. A cidade, de nome originário "Complutum", possui papel importante na contextualização do desenvolvimento político da Espanha antiga e na compreensão, desde antes da Idade Média, da constituição de Madrid. Isso tudo eu vi e entendi coletando informações por folhetos turísticos e pelos museus que visitei.
Em Alcalá de Henares, uma coisa (também) chama atenção. No alto de suas edificações, grandes pássaros fazem grandes ninhos e namoram. Algo curisoso e admirável. Pois vê-se nessa composição um certo "mimetismo" às avessas. Na composição por eles formada não há uma camuflagem. Pelo contrário. Há uma explicitação da boa adaptação. Da (feliz) incorporação ao ambiente.
Em Alcalá de Henares, narrativa, temporalidade, convivência.
Além disso, em Alcalá de Henares, neste último sábado, eu iniciei uma espécie de despedida dessa minha primeira-longa estada em terras estrangeiras.
Daqui pra frente, trabalho em ritmo de conclusão e concretização, e alguns passeios misturados à vontade de aproveitar o restinho-que-resta e completar o siginificado desse período que fica. Inserir algumas imagens e experiências. Ajudar o meu contar. Dos dias, dos momentos. Aproveitar. Fechar. Narrar. Buscar nisso um pouco de simbolismo, um pouco mais de satisfação. Dar sentido e permitir que ele chegue (também) sozinho, surpreendente. Por linhas de pautas espaçadas. Mesclar oportunidades criadas com oportunidades surgidas. Acrescentar alegria à nostalgia precoce. Fazer bom (e melhor) o tempo que vem e o tempo que há. Marcar importâncias. Estar ainda mais junto de quem está comigo. Conviver rotineiramente com aquilo que se fez cotidiano. Nosso. Meu.
Na estação do trem, em Alcalá de Henares, eu me lembrei, em meio à prosa do final do dia, de números. Observando a fotografia que tiramos sentados entre estátuas, recordei-me de equações maiores, aquelas onde encontramos várias operações juntas. Onde existem parênteses, colchetes e chaves envolvendo somas, multiplicações, divisões, substrações. Uma lembrança esquisita, do nada, na qual fiquei ontem pensando... pensando...
Acho que num só instante, uma espécie de turbilhão insconsciente juntou peças estranhas e compôs esse vislumbrar. Pensei que desde a semana passada, eu comecei a enumerar regressivamente os dias. Pensei que Alcalá me lembrou o colégio (quando li Dom Quixote e quando, na formatura da 4ª série, "co-protagonizei" uma peça de teatro na qual eu era o Sancho Pança - que lembrança engraçada!). Pensei, do colégio, na matemática. Junto, pensei no entre da fotografia. Nós entre personagens.
Pensei que em Alcalá de Henares, portanto, respeitei uma lógica de fnalização, começando a operar pelo que está dentro do parênteses, como manda a aritmética. Entendi que nas semanas seguintes continuarei fechando colchetes e chaves. Achei legal. "Flipei", como diriam os espanhóis. Contagem de datas, operações complexas; refleti eu.
Pensando então, questionei-me se desde agosto, quando cheguei, eu lutei em algum momento contra moinhos de vento. Acho que sim.
Talvez, em março, já de volta, ficará a idéia romancista de que o privilégio de ter estado aqui tem muito a ver com a realidade (boa) que habita aquilo que idealizamos. Tem a ver com aquilo que imaginei. Assim como ensina a história do cavaleiro não-herói "de la Mancha". Assim como diz, um pouco, a ausência de nexo que reside neste texto e (às vezes ou bastante) em meus pensamentos.
Em Alcalá de Henares, luminosidade.
Um comentário:
Esta cidade me encantou.
Fica marcada uma visita.
Abração.
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