Meus dois avôs já morreram. Um eu não conheci: vô Rodrigo. Nasceu no século XIX. Com o outro, vô Luiz, convivi por 19 anos. Ele faria 100 anos em 2011. Dizem que de ambos eu herdei um gosto. Gosto pelo papel. Folhas, livros, impressos, jornais, revistas, documentos, fotografias.
Meu avô Rodrigo era leitor convicto da imprensa. Assinava revistas e jornais numa época em que bem menos gente o fazia. E ainda comprava, sempre que podia, livros e outros "papéis" mais.
Meu avô Luiz, amante da história da família (uma espécie de historiador auto-didata e erudito popular), lá nos cantinhos de Minas, colecionava registros, documentos, cartas de uma "parentada" enorme. Além de escrever um livro genealógico, baseado em andanças por conta própria por cartórios mineiros, montou pastas e pastas com o que foi "colecionando" ao longo do tempo. Amostras dos "feitos" familiares, de imagens e letras de quem carrega alguns sobrenomes que explicam minha origem.
Quando já estava doente, vovô me chamou e me presentou com duas pastas. Dizem que fui o único neto que recebeu tal honraria. Sem dúvida, uma honra.
Sei que nada disso aí descrito tem uma explicação genética, que justifique possível hereditariedade. Mas fato é que quem entra no meu quarto, ou procura pelas minhas coisas, depara-se com um mundo de papéis. Pastas com fotos, cartas, documentos antigos, jornais, revistas (algumas com algumas dezenas de anos e/ou raras), cadernos, xerox. Um sem-fim de coisas. Resultado da minha vocação papeleira que, explicável ou não, é nata. Vai ver foi por isso que resolvi ser jornalista e fazer pesquisa por aí...
Ontem, enquanto procurava um caderno que ganhei faz pouco tempo, achei um "livrinho" que meu vô Luiz organizou. É uma coletânea de mais de mil - isso mesmo! - provérbios e gírias populares. Todos enumerados. Uma relíquia. No final do livro, ainda, três listagens: uma com 147 apelidos de pessoas da sua cidade - Barra Longa/MG-; outra com o nome de 40 fazendeiros da região, identificados por suas propriedades; e uma ultima listagem contendo os nomes de todos os presidentes da República, Governadores de Minas Gerais e Prefeitos de Barra Longa de 1889 a 1991 (meu avô adorava política!).
Reproduzo abaixo a "abertura" do livro, assinada por ele e datada (coincidentemente) do dia 05 de abril de 1988 (ou seja, o livrinho está fazendo aniversário essa semana...).
Sabedoria Popular
"Quem tem tempo, faz colher de pau, borda o cabo, vende por um tostão, e acha que ganhou dinheiro".
Para ganhar tempo, ou passar o tempo, venho colecionando ditas, gírias e provérbios sem origem certa, se de rádio, jornal, almanaque ou convivência.
É uma miscelânea, que pode lhe servir como entretenimento, ou como serventia.
Analisei que em cada provérbio há um fundo de verdade e ensinamentos de muito valor que nos pode ajudar a viver e evitar imprevistos.
Luiz da Costa Tavares, Barra Longa, MG, 05/04/1988
Tenho que dizer que esse meu achado se deu justamente porque ontem, com "tempo sobrando" (ficamos sem luz aqui em casa durante grande parte da tarde), desliguei o computador (à força...) e voltei (sem querer...) lá pro's meus papéis.
Hoje, com a luz de volta, não podia deixar de contar, mesmo que em "papel digital", essa história.
Acho que tenho que prestar mais atenção no meu tempo, inverter a lógica do que eu ando chamando de sobra.
Um comentário:
Aí está a fonte do ditado Lassie / Bidu do e-mail. Bacana essa história do livrinho repleto de informações. Valorizei! Abraços.
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