junho 09, 2011

gavetas

Outro dia fiz uma limpeza. Faxina de botar pra fora o que se acumulou. Minha mãe, sábia que é, diz que é preciso sempre renovar nosso espírito de organização e repetir esse gesto. O objetivo não é apenas ganhar espaço. No desfazer-se, diz ela, abre-se a compreensão para aquilo que não é mais necessário acumular. E se há dúvida sobre o destino do objeto, a interrogação já traz a resposta: ainda não é hora de desligar-se dele.

Na minha última e recente arrumação, muita coisa se foi. Como há muito não ocorria. Rasguei folhas. Muitas. Separei para a reciclagem. Doei coisas. Inclusive bens e grafias de antigo apreço. Gavetas repletas ganharam novos ares e vazios. Desprendimento cheio de certezas.

Dois dias depois, quando olhei para tudo e aquela nova disposição, acabei entendendo que mais que esvaziar materiais, havia reaprendido a acumular sentidos. Nova fase em que ando registrando menos de mim e mais em mim.

No futuro, a tarefa será a de organizar a memória. Mas isso posso fazer agora. Durante.

Um comentário:

Leila Ghiorzi disse...

Como pode ser tão perfeito? Acabei de passar pelo mesmo momento. Colocar coisas fora é dar espaço para que novas aconteçam. Pra mim, é como um ritual de renovação interior.