novembro 10, 2009

luxo

Hoje o meu pai me mandou um email. Foi um email do login "capril-jacome", que eu criei há um tempo para as coisas do sítio. Na mensagem, uma foto lá de Contagem. E um textinho breve no qual meu pai se referia a um novo "morador", "um novo campeão", pelo qual ele estava "babando". Foi isso. Tudo isso. Muito.
Fiquei minutos lendo aquelas palavras e analisando a fotografia. Mais que a novidade em si, o gesto do email me pegou. Me abraçou. Me transportou longe. Obrigado.
Ao ver meu pai com sua nova aquisição, consegui imaginar sua roupa delgada (não herdei a sempre magreza do sr. Zé Osvaldo) à noite, amarrotada no banheiro e com odor de sitio. Desde pequeno tenho essa imagem. Botas, calça suja, blusa amassada e o cheiro das cabras, dos bichos, nessa roupa pendurada no banheiro amarelo, à direita, no corredor da casa.
Consegui enxergar todos os movimentos e elementos que estavam na foto. Consegui sentir o calor, a grama, os ruidos e minha mãe, ao fundo, dizendo algo para dirigir a fotografia, alegre que só. Vi o entusiasmo do meu pai com seu novo xodó...
Outro dia eu disse: "você pensa de vez em quando que há um oceano que nos separa de casa?". Ela respondeu que sim. E pensamos juntos: "só que uma vez aqui, o Brasil parece mais perto da Europa do que a Europa do Brasil". É um pouco da vontade intermitente de estar lá, acho. Coisas do sentir.
A imagem que veio me lembrou um poema da mineira Adélia Prado (esses mineiros...). Creio que ambos, minha leitura da foto e os dizeres da Adélia, caem como uma luva para o que há no sanduíche de doutorado e além dele. No meu, pelo menos. Estudo e coração.

Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo. 

2 comentários:

Unknown disse...

Fred,
quando a grnte se afasta de uma pessoa,só acontece no espaço físico. Ela fica dentro da gente.Com seus sorrisos, conselhos, carinhos, cheiros. A gente fica só com uma baita ¨morriña¨.
Beijão.

crisvisouza disse...

Puxa....acho que captei as emoções desse texto, dessa foto, daquele Sr. Moço tão simpático da foto, da resposta da mãe saudosa....O TREM BÃO SÔ!!!

Daí uma música me veio a mente: "Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a lígua dos anjos, sem amor...eu nada seria...."