Tem coisas que a gente aprende. Outras a gente decora. Guarda por repetição, quase sem assimilar. São tipos de conhecimento, que muitos especialistas já classificaram em categorias e tipologias. E que habitam, terminologicamente, nosso tal universo cognitivo.
Eu confesso sem qualquer pretensão: sempre fui de boa memória. Para números, datas, dados. Uma vez me perguntaram por que não havia cursado algo que tivesse a ver com isso. Aliado ao meu relativo senso de organização - às vezes disfarçado de T.O.C (rsrs) - eu teria, com grandes possibilidades, certo sucesso.
Nesse momento da minha vida, rodeado de livros e papéis por todos os lados, ando sendo traído pelo pensamento. Muitas vezes. Ironia do destino. A memória me passa umas rasteiras, distraída que se encontra, em alguns momentos, com lembranças futuras, de coisas que não existem, mas que surgem para trazer certos assombros. Fico lembrando daquilo que a cabeça consegue criar, sem ter vivido. Ansiedade ou angústia, alguns diriam. Inimigas do bom raciocínio. Tenho certeza.
Nesses altos-e-baixos, tento me apegar aos momentos em que a lucidez brota melhor e uso a meu favor não apenas o que "aprendi decorando", mas o que "aprendi aprendendo". Aprendizado mais elaborado. Do tipo que não se rouba e que, no fundo, não se perde.
Na reta final de quatro anos (onde me encontro), mas ainda no começo de uma longa (espero) jornada científica, fico feliz quando percebo, nas pequenas coisas, que muito eu sei porque assim sou.
Com todos os desenganos e dissabores, temperados por uma boa dose de auto-sabotagem (que também, dizem, é parte - não obrigatória - do processo), o que para mim ficou e deve ficar - do conhecimento objetivo e pessoal - não foge à lógica da qual sou partidário mais que etimológico: "know by heart" ou "savoir par coeur". Em bom português: saber pelo coração.
Um comentário:
São muito saudáveis esses esquecimentos,depois de você ter passado tanto tempo acumulando detalhes. Eles vão te ajudar a peneirar tudo, pra só expressar o que tiver passado pelo coração.
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